Mobilização Precoce

E aí mocidade força do meu viver e razão de existir da fisiointesiva...vocês estão bem? 

E aí vamos continuar aquele nosso dedinho de prosa sobre fisio por amor, mas com muita ciência? Então liga aí o seu sistema límbico, as amidalas, tudo isso no seu hipocampo iluminado e bora prosear. 

Há muito tempo, minha avó, D. Rosária fez uma revascularização do miocárdio num grande hospital em SP, ahhhhh foi uma beleza! Me lembro que no dia que a visitei, minha mãe me levou pra conhecer o shopping! Vixiii que emoção!!! Queria até que ela ficasse internada mais tempo, só pra aumentar as chances de ir de novo naquele lugar cheio de lojas chiques e com cheiro de gente rica.  Mas o que eu me lembro bem, mas bem mesmo, é que ela tinha que fazer repouso absoluto! Regime escravo pra nós netos! Era bem legal, porque ela sempre confundia nossos nomes, daí chamava todos os nomes de uma vez, pra que algum catarrento barrigudo fosse atender. 

Todo mundo deve lembrar de uma história dessas, de alguém doente e que não podia nem mexer os olhos até sarar. A cultura da imobilidade se estabeleceu, porque de fato, o repouso em muitas situações é necessário, mas saber respeitar essa tênue linha entre repouso e imobilismo é essencial à equipe multiprofissional e principalmente ao fisioterapeuta, que afinal de contas, é o cientista do movimento. O número de pacientes que sobrevivem a doenças graves tem chamado atenção, uma vez que eles têm o risco aumentado de complicações físicas, neuropsicológicas e de qualidade de vida. Sabe-se que cerca de 25 a 60% dos pacientes sob ventilação mecânica (VM) em UTIs cursam com fraqueza muscular adquirida, levando a maior tempo de hospitalização e permanência na UTI. 

O novo perfil do doente crítico na UTI requer a aplicação de protocolos de mobilização precoce. O fisioterapeuta é o profissional responsável pela implantação e gerenciamento do plano de mobilização do doente crítico, mas outros profissionais, como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem também estão envolvidos nessa nova abordagem. Uma equipe bem treinada e motivada é fundamental para realizar estas atividades com segurança e eficiência. Portanto, senhoras e senhores fisioterapeutas, não basta aplicar os protocolos, precisamos nos empenhar em orientar e treinar todos os profissionais envolvidos.

Mas galera, sejamos conscientes, a mobilização não pode colocar o paciente em risco. Antes de se começar o atendimento fisioterapêutico, deve-se verificar se o paciente apresenta condições pra a realização do exercício. Os principais fatores que devem ser considerados para não se mobilizar um paciente crítico ou interromper o exercício são instabilidade hemodinâmica, altas doses de droga vasoativa, hipo ou hipertermia, plaquetopenia, hemoglobina abaixo de 7 g/dL, entre outros. 

Já a minha avó, recebeu a mobilização precoce ao menos um dia: na minha visita, é claro! e olha que eu tinha só 10 anos e a fisioterapia já corria nas minhas veias. Quando vi aquele monte de botão na cama, não aguentei! fui apertando tudo! Era perna p cima pra cá, trendelemburg p lá, flexão e extensão de tronco! Graças a deus a toracotomia estava estável. O cirurgião estava de parabéns, não abriu nem um pontinho! 

Mas eu só fiz isso empiricamente, porque ainda não tinha acontecido a conferência sobre repouso no leito de 1994 (nenhum comentário sobre a minha idade por favor!!) e grandes revistas publicaram sobre temas relacionados, como as “sequelas perversas do repouso absoluto na cama” e o “excesso do descanso na cama”. Em 2014 um novo painel de especialistas concordou que a intubação endotraqueal não deve ser uma contraindicação para a mobilização ou reabilitação ativa na cama ou fora da cama no ambiente da UTI. Um estudo de prevalência pontual nacional na Alemanha com 775 indivíduos ventilados mecanicamente, concluiu, que a frequência de potenciais eventos de segurança não foi maior com atividade fora da cama versus na cama, verificaram ainda, que os eventos potenciais mais frequentes são alterações fisiológicas que são geralmente transitórios e resolvem após o repouso, sem qualquer intervenção. ENTÃO BORAAAAAA MOBILIZAR! 

Pra finalizar, gostaria de deixar uma reflexão: O termo mobilização PRECOCE, procede? Será que é precoce mesmo? Ou será que está dentro do tempo e faz parte da abordagem terapêutica ao paciente crítico, recuperar a função a que se destina o corpo que é o movimento???? Pensem ai! Grande beijo, e não se esqueçam de servir aos avós mesmo sem revascularização, eles merecem!!!!!

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